In Memoriam: Aleksandr Solzhenitsyn

05ago08

                                

Morreu o Solzhenitsyn, grande dissidente soviético que provavelmente foi quem mais fez para mostrar ao mundo os horrores do Gulag (na foto, sua revista na entrada da prisão) do que qualquer um. Agora deve aparecer gente para lembrar que Solzhenitsyn tinha também umas idéias meio ruins: se não me falha a memória, me lembro dele reclamando pelo Lenin ter dado independência à Finlândia (na revista Manchete, se a referida memória não me falha). Ele também foi acusado de anti-semitismo por umas coisas que eu não li, que ele escreveu depois do fim do comunismo.

Como de hábito, a melhor frase é do Tyler Cowen, que disse que Solzhenitsyn não defendia a liberdade incondicionalmente, mas fez mais pela liberdade do que quase qualquer um no século XX. Eu acrescentaria que nós não devemos ser tão chatos julgando as idéias que as pessoas usam para resistir em situações extremas. Uma vez um simpatizante facistóide me disse que a Resistência Francesa tinha tantos comunistas que devia ser considerada tão totalitária quanto os facistas. Isso é besteira: o leninismo é uma boa ideologia para organizar grupos clandestinos, e a maioria dos que viraram comunistas nessa época deixou de ser poucos anos depois, quando as tarefas eram outras. O misticismo conservador do Solzhenitsyn pode parecer estranho para nossas cabeças envoltas de I-Pod, mas queria ver um anarco-hedonista sobreviver no Gulag. Entre outras coisas para as quais elas servem, as idéias políticas servem para executar tarefas.

O que interessa é que o cara foi macho para resistir na hora-do-vamo-ver. Solzhenitsyn foi um caso raro de sujeito que estava certo e venceu. Conheci muita gente na faculdade de ciências sociais que tinha vergonha de apoiar a URSS por causa do “Arquipélago Gulag”, o que era ótimo, principalmente para elas.

Fica aqui nossa homenagem.

A propósito, uma boa introdução à visão do mundo do cara pode ser encontrada seguindo esse link do MR.

UPDATE: lá n’A Mosca Azul (do Igor), vai ter uma semana Solzhenitsyn! E o miserável conseguiu escrever em cirílico aqui no wordpress, no que eu tentei e fracassei miseravelmente!



4 Responses to “In Memoriam: Aleksandr Solzhenitsyn”

  1. 1 Igor T.

    Isso é que é post, estou com vergonha de ter aberto o meu. Esta semana, lá no blogue, será toda em homenagem a ele. Acrescentarei as impressões do Tyler Cowen depois.

  2. Que isso, mestre, bondade sua! Vou fazer propaganda.

  3. 3 Claire

    “O misticismo conservador do Soljenítsin pode parecer estranho para nossas cabeças envoltas em I-Pod, mas queria ver um anarco-hedonista sobreviver no Gulag. (…)”
    Pois é. Eu também. É como costumo dizer a respeito daqueles tipos fascinados pelo Mal: queria ver um deles falar das “belezas da transgressão” ao serem vítimas de um assalto, tortura, etc.
    Parabéns pelo texto.


  1. 1 Солжени́цын неделя «

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