Debates Chineses

05mar08

No site da Prospect, uma matéria realmente bacana sobre os debates intelectuais sobre economia, política e diplomacia na China atual. Se vocês forem ler uma matéria sobre política internacional esse ano, leiam essa.

Há a história do economista neoliberal chinês que ilustra a transição chinesa com a fábula da zebra: em uma vila, os camponeses utilizavam cavalos para arar o campo, enquanto seus vizinhos usavam zebras. Um dia, os sábios da vila notaram que as zebras aravam melhor, mas não conseguiram convencer seus compatriotas a abandonar a tradição de utilizar cavalos. Os sábios então passaram a, todo dia de noite, pintar listras nos cavalos. Quando reclamaram eles disseram, ué, são cavalos, mas a gente gosta de pintar listra em cavalo. Com o tempo, foram progressivamente substituindo alguns cavalos por zebras, até que todos se acostumaram com o negócio e nem notaram direito quando toda a terra já era arada por zebras.

E a história do militante estudantil que fugiu para as montanhas depois do massacre de Tianammen. Defensor da economia de mercado, ele acabou conhecendo, no interior profundo da China, os perdedores da transição, e hoje publica em um jornal defesas de políticas social-democratas para os pobres chineses.

E o relato de várias experiências de participação popular não-eleitorais, que lá devem ser enrolação, mas que são interessantes para a gente, pois numa dessas alguma coisa daquelas pode ser utilizada aqui para complementar a política eleitoral. Um exemplo é a proposta de decidir por surveys e pela discussão de amostras aleatórias da população com grupos de especialistas. Novamente, duvido que isso dê certo lá, pois o PC pode interferir a qualquer momento e botar tudo a perder, mas provavelmente vai gerar resultados interessantes pra gente (e, uma hora dessas, o PC pode muito bem rodar).

Além do debate intelectual em si, coisas impressionantes, como a localização da nova zona especial de comércio chinesa – Zâmbia; já há outras similares em outros países africanos, e vários competem pelo direito de abrigar zonas especiais chinesas. Há altos debates sobre como aumentar o soft power chinês no exterior, e o autor  do artigo – Mark Leonard – chega a criar o termo “neocomm” (de “communist”) para caracterizar os neocons chineses.

Muito, muito boa a matéria. O UOL, que de vez em quando traduz a Prospect, bem que poderia traduzir essa.

Uma curiosidade: um dos autores chineses citados na reportagem foi o organizador da edição reduzida do Politics, do Mangabeira Unger, o Cui Zhiyuan.



1 Responses to “Debates Chineses”

  1. 1 Felipe Basto

    O Brasil compete com a China na África. Até em Angola a presença chinesa já incomoda os negócios da Petrobras e das empreiteiras. Mestre blogueteiro, vc acha que dá pra competir com o dragão? Ou vamos sair de uma área de influencia naturalmente nossa de rabinho entre a pernas?


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